Ambiente alimentar saudável: Porto Alegre vira referência

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Porto Alegre vira exemplo da promoção de ambiente alimentar saudável

Capital do Rio Grande do Sul promoveu uma série de medidas para tornar o ambiente alimentar mais saudável para crianças e adultos

André Derviche Carvalho

26 de out de 2023 (atualizado 2 de set de 2024 às 20h13)

A alimentação está entre os principais determinantes da obesidade. Nesse sentido, não basta somente pensar em uma dieta saudável, mas também em como a população acessa esses alimentos. Com isso em mente, uma iniciativa feita pelo poder público municipal em Porto Alegre virou referência na promoção de um ambiente alimentar mais saudável.

O projeto partiu de um grupo de trabalho criado para combater especificamente a insegurança alimentar na cidade. Vale lembrar que falar de insegurança alimentar é também falar do consumo exagerado de alimentos ultraprocessados, não só da ausência da alimentação como um todo.

Como resultado, o grupo elaborou o Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável para o biênio 2022-2023. Em live do PBO (Painel Brasileiro da Obesidade), as nutricionistas Annelise Krause e Cintia dos Santos, funcionárias da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, apresentaram os desdobramentos do projeto.

O Plano Municipal de Segurança Alimentar foi feito pensando que 62,2% da população porto-alegrense tem sobrepeso, segundo dados do Vigitel 2022. Além disso, só 40,2% dos entrevistados disseram consumir frutas e hortaliças em pelo menos um dos cinco dias da semana.

Com isso, a gestão municipal tomou medidas em prol de um ambiente alimentar mais saudável. O esforço foi conjunto: envolveu diversas secretarias para além da Saúde, como Educação, Desenvolvimento Social e Esporte.

Aleitamento materno no ambiente alimentar

Cintia dos Santos destacou a prevalência do aleitamento materno exclusivo como uma das ferramentas para prevenção da obesidade. Porto Alegre viu esse índice crescer nos últimos anos: em crianças de até seis meses, passou de 63,41% em 2019 para 65,98% em 2023, segundo dados do Sisab (Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica). O valor está acima da média do Brasil, que é de 45,%.

Conforme há o ingresso, ou reingresso, ao mercado de trabalho, a mãe encontra cada vez mais dificuldades em manter o aleitamento materno exclusivo. Por isso, uma das medidas da gestão municipal foi o projeto “Amamentar é Tri”.

“Ele dá conta de desconstruir a cultura do desmame e, além disso, nós orientamos sobre a oferta de um kit se a mulher quiser transportar o leite do trabalho para casa e da casa para escola”, explica Cintia. Escolas de Porto Alegre passaram a receber capacitação sobre a importância do aleitamento materno.

Promoção de um ambiente alimentar saudável

Todo o trabalho das secretarias foi feito com base no Guia Alimentar para Crianças Brasileiras, do Ministério da Saúde. O documento norteou ciclos de capacitação oferecidos para profissionais da Atenção Básica de Porto Alegre. “A capacitação é voltada para a autonomia do profissional ao manjar o guia. As nossas capacitações são muito práticas, levamos os profissionais para dentro das cozinhas”, diz Cintia.

Assim, quando se trata de crianças, o refeitório escolar é visto como um ambiente de educação alimentar e nutricional. A escola como um todo oferece também experiências sensoriais em prol do conhecimento de novos sabores, texturas e formas da comida.

Nesse sentido, Cintia ressaltou a importância de ter controle sobre as compras públicas, que devem priorizar alimentos in natura ou minimamente processados. Esse cenário encontra-se disseminado principalmente nas escolas públicas, que estão sujeitas ao Pnae (Plano Nacional de Alimentação Escolar).

Horta Escolar

Por fim, outro projeto de promoção do ambiente alimentar saudável foi o Horta Escolar. A prefeitura entregou ferramentas para hortas nas escolas, fomentou engajamento dos professores no projeto e criou uma rede entre eles para o compartilhamento de experiências exitosas com as hortas. Mais de 500 escolas fazem parte do projeto.

Há também hortas comunitárias em unidades do Cras (Centro de Referência em Assistência Social). Os próprios assistentes sociais orientam os usuários do sistema público sobre as melhores e mais saudáveis escolhas alimentares.

Um desafio encontrado pela gestão dessas iniciativas foi a concentração da oferta de alimentos saudáveis no centro de Porto Alegre. Assim, a população periférica acaba estando longe territorialmente da boa alimentação. “As ações de promoção de alimentação adequada e saudável, quando somadas, geram desfechos mais positivos”, diz Cintia.