Painel Brasileiro da Obesidade
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Especialista explica que IMC não considera fatores como nível de adiposidade do indivíduo
André Derviche Carvalho
6 de ago de 2025 (atualizado 6 de ago de 2025 às 15h00)
O IMC tem um uso clínico para o diagnóstico da obesidade há mais de 50 anos. Porém, novas evidências sugerem que esse fator não é suficiente para classificar quadros de sobrepeso e obesidade.
Nesse sentido, um estudo que contou com a participação de 56 pesquisadores propôs o conceito de “obesidade clínica”. Com ele, o diagnóstico considera uma série de outros fatores além da relação peso-altura.
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Atualmente, os critérios de definição da obesidade são puramente antropométricos. Assim, o IMC é útil para aplicação em nível populacional. No entanto, há limitações em termos individuais. Por isso, o estudo Definition and diagnostic criteria of clinical obesity propôs uma nova forma de enxergar a obesidade.
“Obesidade é considerada uma doença da adiposidade. Um excesso de gordura corporal que pode levar a consequências deletérias de saúde. Mas o IMC não avalia diretamente a adiposidade, não mede gordura corporal”, explica o doutor Marcelo Miranda, diretor científico da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
O doutor Marcelo lembra, por exemplo, que o IMC não capta aspectos como a distribuição de gordura corporal. Fatores como esse seriam importante. Afinal, a gordura encontrada na região do abdômen apresenta mais risco em relação às demais localizações.
Além disso, um atleta pode ter grande quantidade de massa muscular e ter um IMC de um indivíduo com sobrepeso e obesidade, mesmo encontrando-se em um bom estado de saúde. Isso mostra limitações no uso exclusivo do IMC para o diangóstico da obesidade.
Vale lembrar que casos de obesidade grau 3, em que o IMC é maior que 40 kg/m² dispensam o uso de outros fatores além do IMC para diagnóstico do quadro.
Com isso, o estudo propõe incluir três aspectos nessa análise: a circunferência da cintura, a relação cintura-quadril e a relação cintura-altura. Assim surge o conceito de “obesidade clínica”, doença crônica e sistêmica caracterizada por alterações na função de tecidos e/ou órgãos devido ao excesso de adiposidade.
Outro impacto da obesidade clínica que deve ser considerado no diagnóstico é a limitação de capacidades funcionais. Nesse caso, podemos citar limitações na mobilidade do indivíduo, por exemplo.
“No caso da obesidade clínica, o objetivo não é exatamente uma porcentagem de perda de peso, ou peso ideal, mas sim melhorar as condições clínicas usadas para identificar a doença”, diz o doutor Marcelo Miranda.
Com isso, o estudo elencou 18 pontos para considerar no momento de definir a obesidade clínica em adultos. Eles passam pelo Sistema Nervoso Central, com dor de cabeça causada pelo aumento da pressão intracraniana; sistema respiratório impactado pela restrição mecânica da gordura corporal; gordura no fígado; apneia do sono, entre outros.
Apesar disso, o doutor Miranda ressalta limitações do conceito da “obesidade clínica”:
“Obesidade não é tudo igual. Tentamos estratificar para estabelecer prioridades na gestão de saúde. A obesidade pré-clinica deve ter atenção individualizada”, destaca. Por isso, é importante que profissionais de saúde estejam treinados para uma abordagem da obesidade que vá além do IMC. Além disso, as políticas públicas devem garantir acesso ao tratamento.
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