Painel Brasileiro da Obesidade
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Estudo do Instituto Cordial mapeou como se dá a representação de pessoas com obesidade nas redes sociais e em instituições, analisando o fenômeno do ativismo gordo
André Derviche Carvalho
18 de abr de 2024 (atualizado 3 de set de 2024 às 15h11)
Apesar de ativa nas redes sociais, a representação de pessoas com obesidade ainda é escassa em organizações que participam da tomada de decisões sobre o tema. Esse foi um dos diagnósticos que o PBO (Painel Brasileiro da Obesidade), uma iniciativa do Instituto Cordial, realizou em seu novo estudo. Com lacunas na representação, a luta pelos direitos da pessoa com obesidade acaba por enfrentar dificuldades.
No working paper “Representação das pessoas com obesidade”, pesquisadores do PBO realizaram um mapeamento com intuito de compreender quem são as vozes que representam essa causa na sociedade. O estudo navegou por organizações da sociedade civil e por perfis nas redes sociais.
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O trabalho da OMS (Organização Mundial da Saúde) “Nada sobre nós sem nós!”, ainda que não tenha essa doença como objeto, diz muito sobre o cuidado da obesidade. A formulação de políticas públicas ganha muito com a participação dos atores envolvidos, em especial as que vivem com a condição.
No âmbito científico/acadêmico, o estudo do PBO não encontrou qualquer artigo científico que identificasse, de forma ampla, a representação das pessoas com obesidade e quem são estas pessoas. Há alguns, em boa medida relacionados ao Body Positive e ao ativismo gordo.
Já no caso de movimentos e organizações sem fins lucrativos, o working paper observou 13 iniciativas espalhadas pelo mundo, sendo duas delas no Brasil, que utilizam diferentes estratégias, desde advocacy e parcerias até fóruns, para endereçar a obesidade. Mas, importante ressaltar, que necessariamente elas são formadas por pessoas com obesidade.
A busca nas redes sociais mostrou que o ambiente digital mostra-se próspero para diálogo, comunicação e trocas de vivências. Lá, pessoas que não possuem obesidade podem compreender outras realidades e contribuir com a luta anti-gordofobia. Importante mencionar que, nesse ambiente, pessoas com obesidade não estão livres do preconceito e da estigmatização, fatores que podem até ser reforçados.
“Redes sociais têm sido usadas como ferramentas de luta para essas pessoas abordarem essa temática”, diz Monica Gonçalves, pesquisadora do Instituto Cordial.
O estudo do PBO identificou 25 perfis relacionados à temática do ativismo gordo e da luta anti-gordofobia no Instagram. Porém, as temáticas que esses perfis abordaram vão além da obesidade. Os perfis também se propõem a falar sobre moda e beleza plus size; ativismo e inclusão LGBTQIAPN+ e saúde e bem-estar.
Embora, muitas vezes, a pauta do ativismo gordo não se sobressaia nas legendas, as publicações desafiam estereótipos, ao exibir corpos gordos em situações cotidianas, ressignificando suas experiências e contrariando narrativas que estigmatizam as pessoas gordas. O mapeamento, no entanto, revela uma rede sem estrutura ou organização institucionalizada, onde inúmeros perfis abordam a gordofobia, evidenciando a falta de uma hierarquia definida e de articulação entre eles.
As mulheres são a maioria na criação destes conteúdos, apontando para a pressão estética que recai, principalmente, sobre esse público. Para além disso, a presença do ativismo gordo como um todo nas redes sociais é um exemplo claro de como as plataformas digitais têm sido fundamentais para amplificar vozes e conscientizar sobre questões sociais importantes.
A autora e ativista Magdalena Piñeyro chama esse espaço online de gordosfera (do inglês, fatosphere). Lá, o ativismo gordo pode compartilhar o desejo de um mundo sem gordofobia e a garantia do acesso aos direitos das pessoas gordas. Além disso, o ativismo gordo é importante em um contexto terapêutico, especialmente para as pessoas que sofreram (e sofrem) com o preconceito de peso.
Mapear como se dá a representação da pessoa com obesidade mostra-se importante por fatores como a construção de identidade de um grupo. Quando essa representatividade não ocorre, as pessoas com obesidade ficam mais sujeitas à estigmatização e ao preconceito e, além disso, deixam de participar da construção de políticas públicas relacionadas a si e aos seus cotidianos.
Segundo uma pesquisa sobre obesidade e gordofobia realizada pela Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e pela a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), 85,3% dos participantes relataram ter sofrido constrangimento por conta do seu peso.
“O discurso biomédico, que é centrado na doença, não busca ressignificar os corpos nem criticar os padrões de beleza impostos. Isso dificulta o acesso ao serviço de saúde, porque essa representação inadequada pode influenciar negativamente o tratamento médico”, diz a pesquisadora Monica Gonçalves
Outra pesquisa sobre mapeamento da gordofobia no Brasil, desenvolvida pela jornalista Thamiris Rezende, criadora de conteúdo no Fora dos Rótulos e no Podcast GordaCast, aponta que 71,5% dos participantes sentem incômodo ao se identificarem como uma pessoa gorda porque cresceram ouvindo que é errado ser gordo. Essa estigmatização pode resultar em dificuldade de acesso a oportunidades educacionais e de emprego e em discriminação, sendo considerada uma questão de direitos humanos.
Da mesma forma, profissionais de saúde também podem ser influenciados por esses estereótipos. Isso pode resultar em diagnóstico e tratamentos inadequados ou, até mesmo, na negligência a problemas de saúde legítimos dessas pessoas. Por isso, é importante garantir que esses profissionais estejam formados para o cuidado da obesidade.
Uma representação mais precisa, respeitosa e inclusiva é essencial para combater estigmas, promover a aceitação e garantir uma abordagem mais compassiva e eficaz em questões de saúde e bem-estar. Identificar e sistematizar movimentos, organizações e ativistas que trazem luz a esse debate é fundamental para garantir estratégias que sejam mais humanizadas e empáticas com esse grupo.
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