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Dieta composta por ultraprocessados, com açúcares e gordura, estimula respostas inflamatórias no sistema nervoso central
André Derviche Carvalho
9 de jun de 2025 (atualizado 18 de jun de 2025 às 10h42)
Além de traumas cranioencefálicos, tabagismo, doenças cardiovasculares e envelhecimento, as causas da doença de Alzheimer também passam pela alimentação. Mais precisamente, passam pela saúde da microbiota intestinal. O consumo excessivo de ultraprocessados pode provocar inflamações que afetam o sistema nervoso. Com isso, ele favorece doenças como Alzheimer e até mesmo depressão.
A doença de Alzheimer é a principal causa de demência no mundo. De acordo com estudo publicado no Journal of Gerontology, estima-se que mais de 50 milhões de pessoas no mundo tenham a doença de Alzheimer. Esse número pode triplicar até 2050. Nesse contexto, estudos apontam uma relação entre a microbiota intestinal e o desenvolvimento deste quadro.
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Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo progressivo caracterizado por perda de memória, dificuldade cognitiva e alterações comportamentais. Sua fisiopatologia inclui a inflamação crônica e o estresse oxidativo, quadros causados também por uma dieta não saudável e pela inatividade física.
A professora Daniela Boleta, da Unipar (Universidade Paranaense), lembra que há uma via direta de comunicação entre o intestino e o cérebro, pelo sistema nervoso central. Essa interação acontece por meio de neurotransmissores, hormônios e sinalização inflamatória.
Assim, a microbiota intestinal (conjunto de microrganismos que vivem no trato digestivo) pode influenciar em processos neurodegenerativos. A professora Daniela traz um exemplo positivo: “Conseguimos ver que uma dieta rica em vegetais, fibras, alimentos fermentados e probióticos auxilia na microbiota. Isso faz com que se promova uma microbiota equilibrada, com aumento de bactérias benéficas”.
Ou seja, uma dieta de ultraprocessados, com alto teor de açúcar e gordura, pode causar disbiose. Isto é, há um desequilíbrio no intestino, com mais bactérias patogênicas, o que provoca uma resposta inflamatória no corpo. Nesse sentido, quando esse quadro afeta o sistema nervoso central, depressão e ansiedade podem ser outros desfechos.
“Quando nós temos uma microbiota equilibrada, as células epiteliais estão bem próximas umas das outras e não vamos ter a passagem de toxinas e substâncias inflamatórias. Com a disbiose, as células perdem essa adesão, causando um processo inflamatório generalizado”, explica a professora Daniela Boleta
Por isso, é recomendável que pacientes com ansiedade e depressão investiguem as suas funções gastrointestinais. Afinal, a origem desses problemas passa também por hábitos alimentares.
O tratamento convencional do Alzheimer é baseado em fármacos que aliviam os sintomas, mas que não impedem a progressão da doença. No entanto, novas abordagens terapêuticas buscam atuar sobre a microbiota intestinal para retardar o declínio cognitivo.
Com isso, dietas ricas em fibras, antioxidantes e gorduras saudáveis podem atuar sobre a microbiota intestinal e reduzir a inflamação. Além disso, probióticos e prebióticos têm demonstrado efeitos positivos na saúde cerebral.
Ainda sobre o tratamento, o estudo Disbiose do trato gastrointestinal e doença de Alzheimer: revisão integrativa indicou que o transplante de microbiota fecal pode ser uma alternativa terapêutica para a doença. No que se refere à prevenção do Alzheimer, uma alimentação rica em fibras e nutrientes anti-inflamatórios é um dos principais caminhos.
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