Painel Brasileiro da Obesidade
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Tema deste ano do Obes(C)idades foi ambientes alimentares móveis, como os deslocamentos influenciam nas escolhas alimentares
André Derviche Carvalho
11 de out de 2024 (atualizado 23 de out de 2024 às 12h04)
A quarta edição do Obes(C)idades, do Instituto Cordial, trouxe debates sobre os potenciais e riscos de ambientes alimentares. Especialistas trouxeram exposições sobre como os espaços podem ser promotores ou não da alimentação saudável. No fim, os participantes reforçaram a importância de esforços regulatórios sobre ambientes alimentares.
O Obes(C)idades é um evento anual que discute a obesidade em nível territorial. Na edição deste ano, o foco foram os ambientes alimentares móveis. Entram nessa categoria fast foods, lojas de conveniência e quiosques em terminais de ônibus e estações de Metrô. Ou seja, estabelecimentos que se encontram no meio dos deslocamentos das pessoas.
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As discussões partiram da premissa que as escolhas alimentares são mais influenciadas pela mobilidade do que pelo ambiente doméstico. Feito nos Estados Unidos, o estudo Effect of mobile food environments on fast food visits, publicado na revista Nature, mostrou que 93,2% das visitas a fast foods ocorre em áreas distantes das residenciais.
Diante disso, políticas que consideram o trajeto diário das pessoas têm mais impacto na redução de visitas a fast foods que aquelas focadas apenas nos entornos das casas ou das escolas. Luana Lara, pesquisadora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), explica que “estar mais perto de estabelecimentos que vendem alimentos não saudáveis está associado de forma positiva à obesidade”.
Especialistas discutem influência do ambiente alimentar nas escolhas individuais. Foto: Instituto Cordial
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Por isso, é importante considerar a oferta de alimento no deslocamento das pessoas. Isso mitiga ou agrava o cenário de má nutrição e insegurança alimentar. Por exemplo, quando o trajeto é permeado pela oferta de alimentos ultraprocessados, a tendência a consumir mais esses alimentos aumenta. É o que se chama de ambiente alimentar, isto é, a interface do consumidor com o sistema alimentar.
“Os desafios acontecem em algum lugar. O território brasileiro é gigantesco e tem condições completamente variadas. Falar sobre obesidade é falar sobre uma miríade de questões que vão dos ambientes alimentares móveis até o acolhimento no sistema de saúde”, Luis Fernando Meyer, diretor de operações do Instituto Cordial
Se antes estudos só olhavam para a relação entre a mobilidade e obesidade pela perspectiva da atividade física, hoje é mais comum ter estudos que consideram o fator da alimentação. Nesse sentido, a professora Patrícia Jaime, coordenadora do Nupens, da USP (Universidade de São Paulo), explica que o ambiente alimentar é polissêmico. Ou seja, ele leva em consideração a comida de casa, da rua, do trabalho, da escola, entre outros espaços.
Desde 2011, com um estudo sobre a cidade de São Paulo, pesquisadores do Nupens apontam para a desigualdade no acesso à alimentação saudável. “Ficou claro: para as pessoas que moram ou trabalham em locais de maior desigualdade, que a falta de estabelecimentos e variedade de preços acessíveis prejudicavam práticas de compra e consumo de alimentos”, explica a professora Patrícia.
Assim, intervenções em vias de deslocamento são uma oportunidade para promover a alimentação saudável, por exemplo, com projetos que estimulem a compra de alimentos orgânicos em terminais de ônibus. A professora Patrícia lembra que o Guia Alimentar para a População Brasileira é um bom norte para essas políticas. Lá, coloca-se que alimentos in natura ou minimamente processados devem ser priorizados em relação aos ultraprocessados.
“Podemos começar a pensar em aplicações para o ambiente alimentar móvel para que ele seja esse espaço de oportunidade e um canal de melhoria de acesso à alimentação saudável”
Luana Lara vê que há uma dificuldade maior em regulamentar espaços que oferecem alimentos ultraprocessados: “Primeiro ponto é deixar disponível o alimento saudável para a população ao invés de deixar o ultraprocessado. Isso é complexo pela regulamentação”. Por isso, ela sugere medidas regulatórias que encareçam os ultraprocessados no ambiente alimentar.
Além disso, já existem mecanismos de promoção de alimentos saudáveis em espaços como escolas. Por exemplo, é isso que o PNAE (Plano Nacional de Alimentação Escolar) preconiza. Luana cita a importância também de regular o tipo de alimento oferecido em cantinas escolares.
Luana Lara, da UFMG, em sua apresentação durante o Obes(C)idades 2024. Foto: Instituto Cordial
Intervenções no espaço urbano também mostram-se eficazes para promover um ambiente alimentar mais saudável. “Urbanistas e engenheiros que lidam com planejamento territorial mal falam sobre alimentação. Isso não está na agenda. É interessante pensar que plano de mobilidade precisa ter essa dimensão de alimentação também”, diz Luis Fernando Meyer.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, milhões de pessoas deslocam-se diariamente. As condições do ambiente alimentar que esses trajetos oferecem é essencial no processo de escolhas alimentares. Por isso, é importante considerar políticas que incidam nesses espaços de deslocamento.
O Obes(c)idades é um dos três componentes da plataforma anual de eventos do PBO (Painel Brasileiro da Obesidade), uma iniciativa do Instituto Cordial. O mês de março é marcado pelo World Obesity Day, que discute o quadro geral e indicadores globais mais atualizados da obesidade com o lançamento do Atlas Mundial da Obesidade.
Em junho, há o Fórum Brasileiro de Políticas Públicas em Obesidade com discussões interdisciplinares sobre desafios, estratégias e oportunidades para o manejo da obesidade. Por fim, em outubro, há o Obes(c)idades.
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