Cuidado da obesidade com falhas gera diagnóstico tardio

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Falhas na linha de cuidado da obesidade geram diagnósticos tardios

Falta de preparo para cuidar da obesidade na Atenção Primária pode agravar fatores de risco da obesidade

André Derviche Carvalho

1 de ago de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)

Há mais de duas décadas, o Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) oferece a seus pacientes a cirurgia bariátrica. Esse é um dos procedimentos para atenuar casos de obesidade. Apesar de já apontada como eficiente para esse fim, a bariátrica poderia ser menos exigida se os níveis de atenção presentes na linha cuidado da obesidade fossem fortalecidos.

Essa foi uma das conclusões que pôde ser retirada da participação de Ana Paula Ribeiro, assistente social no Hucam, em live do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO). Ana Paula esteve à frente de um projeto da Ufes que buscou aprimorar o cuidado da obesidade. Para se ter uma ideia, hoje, existem três níveis de atenção no sistema de saúde: primária, secundária e terciária ou Especializada. Nesse contexto, procedimentos cirúrgicos encontram-se no terceiro e último nível de atenção. Dentro disso, encontra-se a bariátrica, que só é realizada mediante indicação de profissionais da Saúde de outros níveis.

Com isso, Ana Paula enxerga que com mais investimento no cuidado e no acompanhamento do paciente ao longo da Atenção Primária à Saúde (APS), o agravamento de casos de obesidade e de seus fatores de risco seria evitado. Assim, também seriam menos recorrentes casos de sobrecarga em sistemas de saúde. Ela própria afirma que o programa de bariátricas do Hucam conta com cerca de 800 pessoas na fila de espera, a qual precisaria de 10 anos até ser zerada, segundo o ritmo atual.

Cuidado da obesidade

“Algumas dessas comorbidades [depressão, apneia do sono, doença arterial, câncer, gota, trombose e diabetes] poderiam ter sido identificadas precocemente se esse paciente tivesse acesso [ao cuidado] no seu território. Houve uma janela de oportunidades que não foi aproveitada”, afirma Ana Paula. Ela também lembra que os profissionais da Atenção Terciária acabam tendo que tratar de outros fatores para além da preparação para bariátrica, como diabetes descontrolada e hipertensão.

Para atenuar esse problema, foi desenvolvido um projeto de extensão na Ufes entre 2019 e 2021 com intuito de fortalecer e ampliar a linha de cuidado em obesidade na rede pública de saúde do Espírito Santo. Como resultado, esperava-se qualificar profissionais da APS para acolhimento e acompanhamento do paciente pós-operado no Hucam. Assim, os níveis de atenção à saúde ficavam mais integrados. Isso porque o projeto almejava unir a especialização oferecida pela Atenção Terciária ao acompanhamento da APS. “O acompanhamento pós-bariátrica é fundamental para a pessoa com obesidade manter a qualidade de vida, esse peso acaba sendo liberado ao longo do tempo”, afirma Doralice Ramos, pesquisadora do PBO.

Problemas na formação

O curso contou com diversos módulos e palestras apresentados por profissionais de diversas áreas da Saúde – da nutrição à psicologia. Mesmo abordando o território de um só estado, a iniciativa teve participantes de mais de 790 municípios. Ana Paula revelou que há planos para um novo curso em março de 2023.

Perguntada sobre o motivo de tanta procura, Ana Paula citou a formação acadêmica deficiente em obesidade por parte dos profissionais de Saúde do Brasil: “Eles [inscritos na extensão] aprendem uma coisa que não eles têm na academia. Acredito que essa procura é devido a uma deficiência na formação. Muitos profissionais acabam não sabendo o que fazer com a pessoa com obesidade”, ela afirma.