Painel Brasileiro da Obesidade
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Importante na nutrição de recém-nascidos, aleitamento materno encontra dificuldades em ser exclusivo por seis meses
André Derviche Carvalho
18 de ago de 2022 (atualizado 9 de jan de 2024 às 17h54)
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida de uma criança já é um dos principais caminhos para a promoção da saúde e prevenção da obesidade. A realidade, porém, é que o ambiente de trabalho e a indústria alimentícia nem sempre favorecem que mães amamentem seus filhos durante o período ideal.
Em live do PBO (Painel Brasileiro da Obesidade), a pesquisadora Doralice Ramos ressaltou que, idealmente, a alimentação infantil deve constituir-se exclusivamente de leite materno até os seis meses de idade. Isso porque é o leite da mãe que oferece um suporte nutricional para as necessidades da criança, além de fornecer diversas outras vantagens que promovem a saúde da mãe e do bebê.
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No entanto, para muitas mães, esse período de seis meses é repleto de desafios. “Nem sempre as leis trabalhistas vigentes favorecem e possibilitam a manutenção do aleitamento materno. A mulher muitas vezes inicia esse aleitamento materno, mas não consegue manter de forma exclusiva”, diz Doralice. Como resultado, é comum que mães apelem para fórmulas alimentícias que não têm o mesmo valor nutricional que o leite materno.
Segundo a Constituição Federal, a gestante tem direito a 120 dias de licença, sem prejuízo de seu emprego ou salário. Com isso, a mãe trabalhadora ainda fica cerca de dois meses conciliando o trabalho com a amamentação. Por isso, é importante que os empregadores garantam salas de amamentação no ambiente de trabalho. Afinal, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) garante o direito de os filhos serem amamentados e da mãe de amamentar.
Pensando nessas dificuldades, o Ministério da Saúde estabeleceu, em 2017, o Agosto Dourado, ou mês do aleitamento materno no Brasil. O objetivo é conscientizar as mães e a sociedade civil sobre a importância da amamentação. O termo “dourado” é usado porque o leite humano é padrão ouro de qualidade.
Apesar da desinformação, o leite materno ainda é a forma mais eficaz de garantir a saúde do bebê em seus primeiros dias de vida. Em live do PBO, Doralice apontou diversas vantagens: o leite materno garante a nutrição ideal para o recém-nascido; proteção imunológica; prevenção contra doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade; fortalece o vínculo entre mãe e bebê; ajuda na recuperação pós-parto e reduz o risco de doenças.
Considerando o aleitamento materno como forma de prevenir as doenças crônicas na vida adulta da criança, “uma vez que a gente promove esse aleitamento materno, estamos reduzindo o custo da obesidade no longo prazo”, diz Doralice. Vale lembrar que mulheres que amamentam têm um menor risco de desenvolver câncer de mama e de ovário.
Um problema comum que algumas mães enfrentam nessa fase da vida é a depressão pós-parto. Doralice explica que, com o aleitamento materno, o vínculo com o bebê é reforçado, o que garante o bem-estar da mãe e atenua casos de depressão e ansiedade, comuns após o parto.
A necessidade de trabalhar, a ausência de salas de amamentação e a forte propaganda da indústria são apontados por especialistas como os principais fatores que impedem que mais mães amamentem seus filhos por mais tempo. Para garantir esse acesso, o sistema público de saúde promove os Bancos de Leite Humano, que servem para aquelas mães que não conseguem amamentar e para crianças internadas em UTIs neonatal. Procure a secretaria de saúde do seu estado para saber onde esses bancos estão localizados.
Com relação aos problemas encontrados nos ambientes de trabalho, especialistas apontam que os empregadores devem ser mais sensíveis à importância do aleitamento materno e oferecer salas de amamentação no ambiente de trabalho. “Não adianta manter o emprego da mulher se você como chefe não permite que esse aleitamento aconteça”, alerta Doralice.
Já sobre a indústria de alimentos, é preciso ter cuidado com certos produtos. A NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras), por exemplo, estabelece que a promoção comercial de alimentos infantis deve incluir uma advertência de que esses alimentos não devem ser utilizados para a alimentação do lactente nos primeiros seis meses de vida, salvo orientação médica.
Em caso de irregularidades nas propagandas, é importante denunciar ao órgão responsável. Um relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da Unicef de 2022 mostrou que 51% das mães, pais e mulheres grávidas consultadas já foram alvo do marketing de empresas de fórmula láctea, que muitas vezes violam normas de alimentação infantil.
Nesse cenário hostil, é importante que os profissionais de saúde saibam instruir devidamente a mãe. Por isso, o Ministério da Saúde tem, desde 2012, a Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Saudável no SUS para qualificar o trabalho de profissionais da atenção primária e estimular o aleitamento materno exclusivo. Como parte desta estratégia, estados e municípios organizam formações de tutores e oficinas de trabalho em UBSs (Unidades Básicas de Saúde).
O Ministério da Saúde também conta com o programa Mulher Trabalhadora que Amamenta, que visa criar uma cultura de respeito e apoio à amamentação materna exclusiva em empresas públicas e privadas.Se você quer saber mais sobre alimentação infantil saudável, também pode conferir o “Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos”, também elaborado pelo Ministério da Saúde.
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