Cirurgia bariátrica: "É um processo solitário"

Notícias

Buscar

“A cirurgia bariátrica é um processo solitário”

Influenciadora digital Glenda Cardoso revela como foi o processo de realização da cirurgia bariátrica

André Derviche Carvalho

12 de ago de 2022 (atualizado 27 de set de 2022 às 15h25)

A influenciadora digital Glenda Cardoso tinha 174 kg quando foi submetida à cirurgia bariátrica. Formada em Nutrição e graduanda em Marketing, ela enfrentou diversas dificuldades do momento que percebeu os prejuízos da obesidade à saúde até chegar na mesa de cirurgia. Glenda participou de uma live do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO).

Quais dificuldades você encontrou durante a busca da cirurgia bariátrica?

Eu fiz a minha cirurgia no meio da pandemia, em 2021, e não tinham profissionais que fizessem. Para que eu conseguisse cirurgião, eu tive que passar por um programa de dois anos, em que eles “obrigam” a passar por um tratamento de dois anos no plano, além de todo o tratamento que eu já tinha feito todos os anos que eu já tinha feito. Então, os planos dificultam bastante essa questão da cirurgia.

Encontrar profissionais com os quais você se identifique, sinta confiança e que o meu plano cobrisse foi um tempo. Tem que ter muita força de vontade e paciência até conseguir encontrar a pessoa que vai ajudar a chegar no seu objetivo.

A ANS estipula que você precisa apresentar os laudos que comprovem essas comorbidades. Muitas vezes a dificuldade está aí. Tem profissionais que não querem emitir o laudo. O pessoal se depara muito, e eu também me deparei, com essa questão dos profissionais para laudo. Isso é uma das maiores dificuldades da maioria das pessoas.

Como você lidou com a questão da linguagem durante o processo da bariátrica?

Não é muito fácil encontrar profissionais que já estejam adaptados a essa nova forma de tratar pacientes e de conduzir esse atendimento. Na própria faculdade a gente se depara com professores que têm um preconceito com relação à cirurgia bariátrica e também com relação ao paciente com obesidade.

Isso eu acho que é uma coisa cultural e tem que mudar, mas a gente caminha a passos lentos nesse sentido. Em contrapartida, existe muita gente também que já está adaptada a esse novo cenário. Existem ótimos profissionais. Não posso falar só dos profissionais ruins que eu peguei pelo caminho, mas também me deparei com profissionais muito bons, empáticos, acolhedores e sensíveis à minha causa e que sabiam, por experiência clínica, o quanto é difícil viver a obesidade, quanto é difícil esse tratamento.

A pessoa com obesidade já carrega uma vergonha. Ela já carrega essa questão de insucesso no tratamento. Se o profissional não estiver disposto e não tiver esse tratamento, ele vai perder o paciente e muitas vezes o paciente não vai querer procurar outro profissional.

Como está sua vida após a cirurgia bariátrica? Você destaca alguma dificuldade?

Durante a nossa vida, muitas vezes não temos hábitos muito saudáveis. A partir do momento que eu deitei na mesa cirúrgica, fiz um contrato comigo: eu faria de tudo para que eu recuperasse a minha saúde. E foi quando eu decidi fazer exercício e manter a minha suplementação e alimentação.

São muitos desafios. Eu não tinha muita intimidade com a academia, então eu precisei de profissionais que me orientassem. Tudo isso demanda custo e é muito caro. Para a maioria das pessoas, o desafio maior talvez seja financeiro, pois requer muita suplementação. Também requer o acompanhamento com profissionais. Muitas vezes você não consegue um profissional do próprio plano de saúde, você tem que investir um dinheiro para ter um tratamento talvez melhor ou mais frequente.

Eu fui [para a cirurgia] muito ciente de que eu passaria por isso, era um momento que teria começo, meio e fim. Dentro de um mês, eu estaria comendo um pouco mais. O tratamento é desafiador, não é tão simples quanto muita gente pensa, mas ele é compensador em termos de saúde que a gente ganha novamente.

Algumas pessoas vão atrás da cirurgia como uma fórmula mágica. Poderia falar mais sobre?

A cirurgia bariátrica é uma ferramenta que te permite ter uma mudança de hábitos e você tem que se readaptar a tudo. A cirurgia bariátrica não é milagrosa. Você ainda vai buscar essa condição de vida e de melhoria na saúde. É um processo gradativo que vai requerer muito comprometimento. Se você não fizer por você, ninguém vai fazer.

De certa forma, é um processo solitário, apesar de todo o suporte de profissionais e da família, mas é um processo que depende única e exclusivamente da pessoa. Não é milagre, é uma luta real.