Painel Brasileiro da Obesidade
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Hipótese foi levantada no pós-doutorado de Raquel Santana, pesquisadora da Georgetown University, que participou de live do PBO
André Derviche Carvalho
1 de ago de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)
Com um aumento de 72% nos casos entre 2006 e 2019, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a obesidade é uma doença que desperta a atenção de especialistas para suas causas. Entre elas, aparece uma alimentação não saudável. Porém, uma pesquisa indica que não só a alimentação do paciente como também a de seus pais pode influenciar nas tendências de sobrepeso e, consequentemente, na aparição de tipos de câncer.
O tema foi abordado pelo estudo de pós-doutorado de Raquel Santana, que é pesquisadora do Centro de Pesquisa do Câncer da Georgetown University, em Washington, Estados Unidos. Apesar de ainda serem pré-clínicos e obtidos por meio de pesquisas com animais, os principais resultados foram apresentados em live do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO), uma iniciativa do Instituto Cordial.
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“Os filhos dos pais que foram expostos a dietas ricas em gordura apresentaram o desenvolvimento do tumor mais precocemente. Apresentaram marcas do câncer, como aumento da proliferação celular e diminuição de morte celular”, indica Raquel lembrando do câncer como uma das consequências da obesidade. Basicamente, um grupo de pais e mães foi exposto a uma dieta com mais gordura e menos adequada em relação ao nível de ingestão dietética recomendada (RDA, em inglês). Os machos receberam essa dieta durante o período pré-concepcional. Já as fêmeas receberam no período de gestação e lactação.
Enquanto isso, um outro grupo foi alimentado com uma dieta mais rica em nutrientes e vitaminas nesses mesmos períodos. No filho desses casais, o gene responsável por controlar a fome e a saciedade esteve mais ativo. Com isso, ficou constatado que o estado nutricional dos pais pode contribuir para um melhor estilo de vida e para prevenção de doenças como obesidade nos filhos. Vale lembrar que quando se fala em estado nutricional, refere-se à condição de saúde de alguém relativa ao consumo e utilização de nutrientes,
Ou seja, é como se o modo de alimentação dos pais fosse “passado” para a geração seguinte. Isso acontece porque os genes dos pais são modulados a partir do ambiente em que eles vivem e da alimentação à qual eles são expostos, o que é “transmitido” aos filhos. “A dieta adotada em determinado período de vida pode modular os nossos genes. Não estou falando em alterar a estrutura do DNA. Estamos falando da forma que seu gene está trabalhando para favorecer um melhor desenvolvimento e uma melhor adaptação”, detalha Raquel. Em outras palavras, se os pais têm uma dieta não saudável, seus genes são modulados a partir dessa alimentação, “desligando” mecanismos de saciedade, por exemplo. Essa característica acaba chegando nos filhos.
A pesquisa de Raquel dá mais um passo na compreensão de alguns dos vários fatores por trás dos altos índices de obesidade pelo mundo. A doença desperta preocupações, por exemplo, por estar associada ao aumento do risco de pelo menos 13 tipos de câncer, de doenças cardiovasculares, diabetes e de efeitos psicológicos.
Em sua apresentação, a pesquisadora da Georgetown University também explicou como a prevalência da obesidade pode causar o câncer. O excesso de gordura corporal provoca um estado de inflamação no corpo humano, o que pode gerar um aumento no nível de hormônios. “Uma vez que essa situação está instalada no corpo do paciente, o nosso tecido adiposo tenta reagir para conter esse desbalanço”, afirma, lembrando que o corpo tenta impedir que a inflamação chegue em outros tecidos.
Ao não cessar, a inflamação pode acabar provocando alterações indesejáveis em nossas células, resultando no aparecimento de um tumor. Por isso, considerando não só esses riscos, mas também o fato de que a obesidade pode se manifestar logo no começo da vida, como já mostrado, Raquel afirma: “A janela crítica para prevenir a obesidade, assim como outras doenças crônicas, pode ser mais cedo do que pensamos”.
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