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Chefe da Liga de Obesidade Infantil no Hospital das Clínicas da USP, Maria Edna de Melo revela detalhes do tratamento de crianças e adolescentes com obesidade
André Derviche Carvalho
2 de dez de 2021 (atualizado 3 de ago de 2022 às 14h55)
Quando se imagina em cuidado obesidade infantil, mudar o estilo de vida pode parecer o caminho mais eficaz rumo à melhora desse problema. Porém, especialistas já apontam que incluir unicamente mais atividades físicas e menos sedentarismo na rotina das crianças e adolescentes não é tão efetivo na redução da obesidade infantil. Aliar essas mudanças com uma dieta saudável é o que aparece como caminho mais promissor.
Esse foi um dos apontamento feitos pela dra Maria Edna de Melo, chefe da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FM-USP), em live do PBO. Lá, ela também indicou os principais obstáculos que se colocam na redução da obesidade infantil: “Mudar estilo de vida é mudar a raiz também. Temos uma população com hábitos muito difíceis de se modificar. Manter uma rotina mais saudável possível é muito difícil”.
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Colocações como essa ficam claras no cotidiano. No dia a dia, nem todas as famílias sabem quais trocas fazer na rotina alimentar dos filhos. Além disso, encontrar tempo no cotidiano para buscar uma alimentação mais saudável não é uma realidade para todos. “As informações não são passadas de uma forma clara. A racionalidade na escolha do alimento é muito pequena”, afirma Maria Edna.
Segundo apontam dados do Ministério da Saúde de 2021, 6,4 milhões de crianças têm excesso de peso no Brasil. Os números são suficientes para que especialistas classifiquem o cenário como alarmante. Porém, fazer o diagnóstico dessa doença não é um caminho óbvio. A dra Maria Edna explica que, para de fato encontrar a obesidade em crianças e adolescentes, é preciso levar em consideração variáveis de idade e de gênero: “Não podemos olhar para a criança e fazer uma estimativa, porque sempre vamos errar”.
Porém, essa não é a única especificidade desse público quando se fala em obesidade. A criança ou adolescente que convive com o sobrepeso também sofre com estigmatização por parte da sociedade, o que pode ter repercussões inclusive na sua saúde mental. “As características corporais são as principais causas de bullying na escola”, aponta Maria Edna. “As crianças não devem ser responsabilizadas por doenças e pela alimentação, porque elas ainda não têm uma cognição pronta para esse tipo de atenção”, complementa.
Além do cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes com obesidade, é preciso ter atenção com a saúde física. Isso porque uma das principais características dos quadros de obesidade é a sua progressividade. A dra Maria Edna reafirma essa tendência: “Uma vez que se tem obesidade, a tendência é mantê-la, sendo muito mais difícil manter o peso dentro de uma faixa de normalidade”. Assim, quem aparece no caminho de preocupações também são fatores de risco, como diabetes e hipertensão, complicações metabólicas cuja regressão dificilmente aparece em pessoas com obesidade.
Outro fator importante a se considerar no tratamento de quadros de obesidade é o temporal. Quanto mais precocemente a obesidade estiver instalada em algum paciente, maior vai ser a redução, não só dos seus anos de vida, mas também daqueles seus anos de vida saudáveis. Homens que começam a ter obesidade entre 20 e 39 anos, por exemplo, podem comprometer até 8 anos de vida e 19 anos de vida saudável. E como se dá o comprometimento dos anos saudáveis? A dra Maria Edna responde lembrando de problemas como a asma, que prevalecem mais em crianças com obesidade. Ela também cita a compulsão alimentar que também pode aparecer nessa faixa etária.
Como reduzir a obesidade infantil?
Mais do que mudar o estilo de vida, mudar a alimentação desponta como uma das alternativas para evitar fatores de risco e reduzir mais o IMC. Com isso, especialistas apontam as principais medidas que favorecem uma adequação nutricional. Eliminar bebidas açucaradas, inclusive sucos; usar água, leite semidesnatado ou desnatado; restringir gordura saturada e estimular uma alimentação com frutas e verduras são as principais.
Esse cenário é complementado pelo uso de medicamentos e pela realização de cirurgia bariátrica (nesse caso, a cirurgia em adolescentes entre 16 e 18 anos é experimental, sendo indicada somente em casos graves de obesidade nessa faixa etária), mas a dra Maria Edna alerta: “Temos que tomar muito cuidado, porque, por ser excelente [a cirurgia bariátrica], assim como as medicações também podem ser excelentes para os pacientes de acordo com cada um, ela não pode ser banalizada, assim como os medicamentos não podem ser banalizados”.
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