Projetos de agricultura urbana impulsionam alimentação saudável
Iniciativa na região de Campinas resultou em melhora na saúde, aumento no consumo de verduras e legumes e benefícios para saúde mental
10 de abr de 2025 (atualizado 10 de abr de 2025 às 10h29)
Apenas 21,4% da população adulta brasileira consome a quantidade diária recomendada de 400 gramas de verduras e legumes, segundo o Vigitel 2023. Nesse contexto, projetos de agricultura urbana ganham destaque no estímulo a escolhas alimentares mais saudáveis no dia a dia. Uma horta comunitária, por exemplo, pode ser suficiente para trazer segurança alimentar, mudar hábitos e melhorar a saúde.
O Pé de Feijão é um negócio social que desenvolve espaços para produção de alimentos em meio a grandes cidades junto à comunidade. Em outras palavras, é um projeto de agricultura bem sucedido. As hortas concentram-se principalmente na Região Metropolitana de São Paulo, nas cidades de Campinas, Guarulhos, Osasco e na capital. Todo esse trabalho é norteado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira.
“As pessoas sabem que precisam comer menos alimentos ultraprocessados. Elas sabem que têm que comer menos açúcar, menos gordura e menos sal e que têm que comer mais fruta, verdura e legume. A agricultura urbana entra nesse lugar de ser um incentivo”, explica a bióloga Luisa Haddad, diretora executiva do Pé de Feijão
Um dos cases de sucesso do Pé de Feijão é o trabalho desenvolvido no Jardim Florence, comunidade de Campinas. Lá, os integrantes do Pé de Feijão se reuniram com pessoas locais interessadas e montaram uma horta urbana. Com isso, a população local enriqueceu sua dieta com alface, mandioca, rúcula, batata doce, entre outros alimentos in natura. Acesse o site clicando aqui.
O primeiro passo foi mobilizar pessoas interessadas, criar um grupo motivado para depois montar a horta. A população campinense planta diariamente na horta do Jardim Florence e realizam compostagem para que o espaço seja autossuficiente em adubo. Além disso, a horta ganha um aspecto pedagógico, já que ela envolve a participação da comunidade escolar da região.
Agricultura urbana e as mudanças climáticas
“Aumentar a nossa diversidade alimentar, sair da monotonia alimentar que estamos hoje não só tem um aspecto nutricional, mas também de resiliência climática”, diz Luisa. Isso ocorre porque os projetos de agricultura urbana abastecem a população de PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Um dos diferenciais dessas espécies é que seu plantio resiste a eventos climáticos extremos, como geadas ou calor intenso.
Por exemplo, diferentemente do alface, a azedinha e o maxixe são menos sensíveis a essas mudanças do clima e o gosto ainda é semelhante, sendo uma boa substituição. Ou seja, os projetos de agricultura urbana também formam hábitos alimentares da população. “Não só encanta pelo plantio, da semente até a colheita, mas pelo universo de novos sabores que se abre”, ressalta Luisa.
Como resultado, moradores da comunidade apontaram diversos benefícios no projeto de agricultura urbana, como aprendizado sobre horta, compostagem e alimentação; aumento no consumo de frutas, verduras e legumens; melhora na saúde física e mental, com redução do peso corporal e controle da pressão arterial.

Projeto de agricultura urbana no Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Além disso, projetos de agricultura urbana acabam sendo aliados na redução da prevalência da obesidade. Isso porque ao trocar alimentos ultraprocessados por in natura ou minimamente processados, reduz-se a chance de desenvolver DCNTs (Doenças Crônicas Não Transmissíveis). Esses alimentos também aumentam o risco de sintomas depressivos, segundo estudos do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) USP.
Apesar dos benefícios, projetos de agricultura urbana apresentam limitações. Pela escala e logística de produção, é difícil que uma horta abasteça um grupo diariamente com a quantidade ideal de legumes e verduras. Por isso, a ideia é que a produção da horta seja combinada com compras mais saudáveis em feiras ou mercados.
Como começar um projeto de agricultura urbana
Montar uma horta em casa ou no prédio pode ser fácil e barato. Luisa Haddad dá algumas dicas para isso. Se a ideia for fazer em casa, plantar temperos é um ótimo começo. No entanto, é importante lembrar que alimentos de horta demandam bastante sol. Por isso, é importante verificar essa disponibilidade antes.
Por outro lado, se o problema for iluminação natural, é sempre possível apelar para as PANCs. Um exemplo: a bertalha coração cresce na sombra e pode ser uma ótima opção para a horta caseira. Vasos de no mínimo 30 centímetros já dão conta do recado.
Além de fomentar projetos de agricultura menores, o Pé de Feijão também busca capacitar agentes comunitários locais para que eles próprios montem hortas em suas regiões. É o que se chama de “oficina de multiplicadores”. Com isso, a ideia é atacar um problema de saúde pública que é o da má nutrição. Siga o projeto no Instagram (@pedefeijaosp).