Painel Brasileiro da Obesidade
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Fatores como níveis recordes de inflação e baixos custos de ultraprocessados compõem cenário de aumento da obesidade
André Derviche Carvalho
1 de ago de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)
No pacote de produtos afetados pela inflação, o grupo dos alimentos ganha destaque. Entre abril de 2021 e abril de 2022, eles ficaram em média 15% mais caros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cenouras e tomates foram aqueles com aumentos de preço superiores a 100%. Assim, quando a comida mais saudável do mercado é também a mais cara, mais uma dificuldade se coloca para a melhora dos hábitos alimentares do brasileiro e consequentemente para o cuidado da obesidade.
Em um contexto de obesidade, a alimentação aparece como um dos fatores que influenciam no aparecimento da doença. Nesse cenário, profissionais da Saúde estabelecem recomendações sobre os alimentos mais e menos saudáveis, como frutas e hortaliças no primeiro caso e ultraprocessados no segundo. Assim sendo, os primeiros são mais indicados que os segundos. O que se discute atualmente são os fatores que determinam as escolhas alimentares das pessoas. Dentro disso, fica cada vez mais claro que o fator financeiro é relevante para essas escolhas.
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O professor Rafael Claro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), contou em live do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO) que, entre especialistas, era comum o pensamento de que a obesidade e doenças crônicas eram problemas de populações de alta renda. Hoje, porém, quando se coloca nessa equação os custos – em tempo e dinheiro – para praticar atividades físicas e para ter uma dieta saudável, as conclusões podem ser outras. “Pouco a pouco, essa carga de obesidade sai daqueles grupos de mais alta renda e vai para a população de mais baixa renda”, afirma.
Dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde, ajudam a perceber esse cenário. Com uma análise de renda e escolaridade, descobre-se que a prevalência tanto do sobrepeso (quando o IMC está acima de 25 kg/m²) quanto da obesidade (com IMC acima de 30 kg/m²) diminui com o aumento da escolaridade entre as mulheres. Para o professor Claro, é importante considerar esse fator, pois a escolaridade implica também em conhecimentos sobre alimentação saudável e também na renda do indivíduo.
Entre especialistas, uma alimentação é classificada como saudável quando é composta essencialmente por alimentos in natura ou minimamente processados. Além disso, a alimentação também é saudável quando há um cuidado maior com sal, açúcar e gorduras, quando há consumo ocasional de alimentos processados e não há consumo frequente e regular de alimentos ultraprocessados.
Assim, os problemas aparecem quando os ultraprocessados se apresentam como mais baratos, mais práticos e, consequentemente, como uma opção melhor. Principalmente em um contexto em que o poder de compra da população diminui e uma rotina de trabalho impede um tempo longo para cozinhar. Junto a isso, os preços de frutas, hortaliças e legumes encontram-se em alta: entre março de 2021 e março de 2022, eles subiram quase 25%.
“O ambiente não cansa de oportunizar o consumo alimentar não saudável. O consumo saudável fica cada vez mais distante, mais caro, menos disseminado e menos conveniente”, afirma Rafael. O professor da UFMG apontou que o caminho é tornar a escolha pelo alimento saudável a mais fácil e acessível, o que inclui quatro possíveis medidas: baratear produtos saudáveis; restringir a publicidade dos não saudáveis; informar melhor os consumidores por meio da rotulagem nutricional e restringir a comercialização e consumo de alimentos não saudáveis em espaços públicos, como escolas.
No caso da regulação de propaganda, o Brasil encontra respaldo em um de seus vizinhos sul-americanos. Em 2017, o Chile, então com cerca de 75% de sua população acima do peso, proibiu publicidade na TV de alimentos com excesso de calorias, sal, gordura e açúcar. No Brasil, o consumo regular de refrigerantes diminuiu nos últimos anos, mas ainda aparece na rotina de mais de 5 milhões de pessoas, nas capitais e Distrito Federal, segundo a Vigitel.
Se por um lado encarecer alimentos não saudáveis – o que diminui ainda mais o poder de compra da população em um momento de inflação – pode ainda não ser o melhor caminho, por outro, o governo pode estimular o consumo de alimentos saudáveis. Isso pode ser feito por meio das compras institucionais que o Estado faz. Iniciativas como o estímulo à compra de alimentos saudáveis por gestores municipais e o investimento em agricultura familiar por parte do governo federal são alternativas viáveis.
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