Formação permanente em Saúde fortalece cuidado da obesidade

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Formação permanente de profissionais fortalece cuidado da obesidade

Luciana Castro, professora e pesquisadora da UERJ, incentiva gestores e profissionais da saúde a buscarem formação contínua para o manejo da obesidade

André Derviche Carvalho

17 de fev de 2022 (atualizado 7 de ago de 2022 às 17h20)

Em sua formação acadêmica, o profissional da saúde que trabalha com o cuidado da obesidade encontra algumas dificuldades. Isso porque nem todos os cursos de ponta da área da Saúde no Brasil abordam essa doença em suas matrizes curriculares. Portanto, é ao sair da sala de aula universitária que a busca por conhecimento e por melhores formas de lidar com esse problema deve continuar. Nesse sentido, a formação permanente em Saúde é um dos caminhos eficazes para aprimorar o cuidado de doenças complexas como a obesidade.

Nesse sentido, o cenário brasileiro é de alerta. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há quase 96 milhões de adultos com sobrepeso no Brasil. Para Luciana Castro, professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o caminho para um manejo mais efetivo da obesidade que vise melhora na saúde da população existe: “A formação profissional é uma parte da organização. Ela ajuda, dá direcionamentos, mas, sozinha, não dá conta desse problema”, afirmou em live do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO).

Desde 2004, há no Brasil a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), vinculada ao Ministério da Saúde. O objetivo é estimular, acompanhar e fortalecer a qualificação profissional dos trabalhadores da área da saúde, com base nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). A professora Luciana vai além e lembra que investir na formação dos profissionais também é responsabilidade dos gestores de saúde. 

Com relação à formação permanente dos profissionais da saúde, o processo passa por entender o cotidiano desse trabalhador para que seja possível complementá-lo com momentos de formação. “O trabalhador da saúde precisa ter tempo e espaço físico para se reunir com a sua equipe. É aí que essa formação vai se dando”, aponta Luciana lembrando que esse fornecimento de tempo e espaço passa pelo empenho de gestores da saúde.

O espaço de formação permanente para obesidade pode ser ocupado por cursos, por exemplo. Na live de PBO, foram citados dois deles ligados à UERJ. O projeto “Ações de controle e enfrentamento da obesidade no estado do Rio de Janeiro: pesquisa, formação, monitoramento e difusão (PEO-ERJ)”, por exemplo, contou com cursos tanto para profissionais de saúde (“Cuidado da obesidade no território: reflexão e ação”), quanto para gestores. No primeiro caso, foram cinco módulos, 200 horas de conteúdo de qualificação e diversos profissionais participantes, entre eles nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e educadores físicos.

Dificuldades no cuidado da obesidade

Com um investimento maior na formação e capacitação dos profissionais, o cuidado da obesidade pode ser melhorado no sistema de saúde. Porém, nos últimos anos, foi possível notar alguns entraves para consolidar essa perspectiva. No início de 2020, por exemplo, o Ministério da Saúde decidiu que a composição das equipes multidisciplinares de saúde (ou seja, aquelas que comportam profissões diversas) não precisaria mais estar vinculadas ao modelo do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB).

O NASF foi criado em 2008. Seu objetivo é ampliar e integrar o trabalho de profissionais de diferentes áreas do conhecimento na Saúde da Família. Assim, o modelo envolve conjuntamente fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros profissionais e prol do cuidado das famílias usuárias do SUS. A mudança veio em um contexto em que o financiamento da Atenção Primária (APS) mudava para o programa Previne Brasil. O custeio do Ministério da Saúde ao NASF também foi reduzido.

A professora da UERJ classificou essa mudança como desastrosa. Até porque um dos trunfos do sistema público de saúde é o contato mais direto com o território em que o paciente vive, o que inclui modo de vida, estrutura familiar, entre outros fatores que podem contribuir para identificar a prevalência de problemas como a obesidade. Tudo isso é possibilitado pela APS. Além disso, Luciana destaca problemas como a reorganização constante dos fluxos de trabalho na APS, com as mudanças na gestão. “O cuidado vai se diluindo, ele não tem uma continuidade na sua estruturação”, ela afirma.