Painel Brasileiro da Obesidade
Buscar
Além da disabsorção intestinal, cirurgia bariátrica traz alterações metabólicas, o que reforça o controle da diabetes
André Derviche Carvalho
17 de ago de 2023 (atualizado 9 de jan de 2024 às 17h50)
A cirurgia bariátrica é um dos caminhos mais conhecidos e tradicionais para o controle da obesidade. Isso não significa, porém, que novas descobertas possam ser feitas sobre esse procedimento. Nos últimos anos, por exemplo, especialistas vêm se atentando para o papel cada vez maior que as alterações metabólicas têm na perda de peso e no controle de doenças associadas, como a diabetes, após a cirurgia bariátrica.
Também conhecida como “cirurgia de redução de estômago”, a bariátrica é uma das principais intervenções clínicas a serem praticadas no cuidado da obesidade. Ela é recomendada quando o IMC (Índice de Massa Corporal) de pessoas com obesidade está igual ou acima de 40 kg/m². Por reduzir o estômago, a bariátrica induz a perda de peso, afinal, há menos absorção de alimentos no corpo humano.
Acompanhe todas as novidades da iniciativa
Porém, o que se descobriu nos últimos anos é que, além desse processo de disabsorção, a bariátrica também gera alterações metabólicas. E elas também têm um papel importante na redução de peso. O cirurgião Fabio Viegas, membro da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), explica que o estômago e o intestino produzem diversos hormônios. Quando a cirurgia bariátrica é feita, a produção desses hormônios é alterada, o que pode beneficiar o combate a doenças metabólicas.
“Nós entendemos que as alterações metabólicas de uma cirurgia bariátrica são muito maiores e importantes do que a importância da disabsorção [alimentar]”, explica o doutor Fabio. Ele aponta que essas alterações metabólicas trazidas junto à bariátrica contribuem para a redução de casos de diabetes.
Hoje em dia, é comum especialistas chamarem o procedimento de cirurgia bariátrica metabólica. A intervenção é a mesma. Desde 2017, o CFM (Conselho Federal de Medicina), autorizou a indicação de cirurgia metabólica para pacientes que possuem diabetes tipo 2 com IMC entre 30 e 35 kg/m² sem resposta ao tratamento clínico convencional.
Vale lembrar que diabetes é uma condição associada à obesidade. Internacionalmente, a cirurgia metabólica foi reconhecida em 2011 pela IDF (International Diabetes Federation). Outras entidades, como a IFSO (International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders), recomendam, pelo menos desde 2014, o tratamento cirúrgico para portadores de diabetes.
Depois do reconhecimento da importância de alterações metabólicas, o doutor Fabio conta que os cirurgiões passaram a se aproximar da área da endocrinologia, a fim de melhor compreender o papel dos hormônios na cirurgia bariátrica.
Com o entendimento da importância das alterações metabólicas na cirurgia bariátrica, o doutor Fabio explica que a restrição alimentar no pós-operatório ocupa um segundo plano: “As novas técnicas de cirurgia metabólica não preconizam a restrição alimentar, que é um medo muito grande do paciente”. O CFM é o órgão responsável por regulamentar novas técnicas em intervenções médicas mediante a comprovação de eficácia científica.
Além da alimentação, outro fator ressaltado por especialistas é o acompanhamento pós-cirurgia. “Os resultados podem ser bons ou não dependendo do acompanhamento que o paciente vai fazer”, resume o doutor Fabio. Nesse sentido, é importante haver uma equipe multidisciplinar que acompanhe o paciente no pós-operatório, que inclui categorias que vão desde nutricionista até psicólogo.
Assim, a cirurgia bariátrica e metabólica garante à pessoa com obesidade melhores condições clínicas, hormonais e mecânicas para lidar com a doença. Com o passar do tempo, novas técnicas e tecnologias surgem para aprimorar esse procedimento e, consequentemente, aumentar sua efetividade.
Como proposta, o doutor Fabio Viegas aponta que o sistema público de saúde deve investir em parcerias com o setor privado para universalizar o acesso à cirurgia bariátrica e metabólica. Isso porque os hospitais públicos já tratam de diversas outras patologias. “Precisamos diversificar a maneira de entrada no SUS (Sistema Único de Saúde)”, ele diz.
Tags
Em alta
Últimas
“Profissionais de educação física devem ser inseridos no sistema de saúde”
Amamentação materna cresce no Brasil; conheça os benefícios
Cordial lança agenda legislativa para obesidade no Congresso Nacional
Cuidado nutricional ainda é ausente no tratamento do câncer
“Os Jogos Olímpicos não têm efeito na prática de atividade física”, diz professor