Painel Brasileiro da Obesidade
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Guilherme Nafalski, coordenador do PBO, discute como ciências humanas podem contribuir no debate sobre obesidade
André Derviche Carvalho
20 de jan de 2022 (atualizado 3 de ago de 2022 às 14h53)
A obesidade é encarada por especialistas como um problema complexo, permeado por fatores diversos. Quem se aprofunda no tema enxerga que a doença está relacionada a estilo de vida, hábitos alimentares, comportamentos e até transformações do mundo moderno. Alguns desses campos são colocados em discussão na obra Sociologia da Obesidade, de 2009, escrita pelo francês Jean-Pierre Poulain. Guilherme Nafalski, sociólogo e coordenador do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO), analisou o livro em live da iniciativa.
“A contribuição das ciências humanas é reformular e reestruturar a problemática do papel dos determinantes sociais da obesidade a partir dos seus próprios métodos de análise”, descreve Nafalski. Portanto, a proposta que surge é a de enxergar a obesidade e o sobrepeso sob a lente da Sociologia. Enquanto isso, essas doenças aparecem como um risco. O sobrepeso, por exemplo, pode atingir 2,3 bilhões de adultos no mundo até 2025. A estimativa é da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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A sociologia como vertente das ciências humanas aparece para analisar quais camadas sociais são mais atingidas pela obesidade. Por exemplo, em sua obra, Poulain relata que em países desenvolvidos, há mais pessoas com obesidade em camadas mais pobres. No caso dos emergentes, a situação se inverte e encontramos essa doença entre os mais ricos. Mesmo assim, Nafalski ressalta que a leitura para cada grupo social varia. Além disso, o pesquisador do PBO coloca em xeque essa máxima de Poulain ao analisar o caso brasileiro: nele, a obesidade chega nas camadas mais pobres.
De qualquer forma, já é possível colocar educação, renda e profissão como determinantes sociais da obesidade. Isso porque esses três campos podem determinar o modo de vida e rotina dos indivíduos, afetando, por consequência, o que eles comem. Nesse sentido, esse tipo de relação nos ajuda a entender como certos processos históricos têm influenciado no cenário da obesidade. “A partir da Revolução Industrial, passamos a ter outro tipo de relação com o tempo e com o espaço. A alimentação passa a servir para outra coisa. Você tem a hora do almoço e o tempo de turno do trabalho. As refeições são mais marcadas”, explica Nafalski.
Em Sociologia da Obesidade, Poulain apresenta caminhos para tratar a obesidade. Eles seriam: educação alimentar dos indivíduos e taxações sobre gordura em alimentos, adotadas por agendas de governo. Vale lembrar que, pelo menos no caso brasileiro, o Estado tem o dever de garantir o bem estar e a saúde da população.
A discussão também passa pelas representações sociais em volta da obesidade e da corpulência. Afinal, pode-se também perguntar o que mais motiva a vontade de emagrecer, a saúde ou a estética? Responder a isso passa por considerar movimentos como o “ativismo gordo”. Nele, o comer é colocado também como escolha política.
Algo semelhante pôde ser enxergado no início de 2022. Nessa época, o banco Bradesco divulgou um material defendendo a “segunda-feira sem carne”. A campanha instituía o primeiro dia útil de semana como marco para não consumir carne. Como resultado, um grupo de pecuaristas se revoltou. “Há cadeias produtivas e econômicas ligadas não só à obesidade e à fome, mas à alimentação”, afirma Nafalski.
Frente a esse cenário de disputa, obras como Sociologia da Obesidade ganham mais relevância. Poulain estabelece três eixos de prevenção da obesidade. O esquema foi resultado de uma análise sobre como as operadoras de saúde norte-americanas apelaram à ciência para prevenir a obesidade diante dos altos gastos que a doença traz a sistemas de saúde. Assim, os eixos são: a “nutricionalização”, simbolizada pela transformação dos alimentos que se comem, medicalização e o controle legislativo. Acima de tudo, tais ações buscam contornar o cenário da obesidade, que já é epidêmico em lugares como o Brasil.
Por fim, Nafalski lembra como a prática científica pode colaborar no campo das políticas públicas: “O pensamento científico é o que molda as possibilidades”. Além disso, esse pensamento, estudos e pesquisas também norteiam a tomada de decisões políticas. No caso da obesidade, não se pode desconsiderar esses pilares. “É fundamental entender melhor a obesidade e pensar quais são os nossos marcadores”, conclui.
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