Painel Brasileiro da Obesidade
Buscar
Dados apontam para os riscos da perda de peso não intencional em idosos; especialista indica caminhos para perda de peso saudável
André Derviche Carvalho
22 de nov de 2024 (atualizado 22 de nov de 2024 às 15h18)
A perda de mais de 10% de peso corporal em idosos está associada a um aumento de 289% da mortalidade no caso de homens. Entre as mulheres, este número está em 114%. Provenientes de um estudo da revista Jama Network, os dados apontam como a perda de peso em idosos pode ser até mais grave e fatal do que o desenvolvimento da obesidade neste grupo.
De acordo com a mesma pesquisa, uma perda de 5% a 10% do peso corporal resulta em um aumento de 33% da mortalidade em homens e 26% em mulheres. Desta forma, destacam-se os riscos da perda de peso não intencional em idosos. Nesse caso, com a perda da massa muscular – quadro conhecido como sarcopenia – pode haver o aumento da mortalidade e da incapacidade.
Acompanhe todas as novidades da iniciativa
Por isso, Ana Cristina Canedo, diretora científica da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) alerta que “a atividade física deve necessariamente acompanhar a perda de peso para preservar a massa muscular e a massa óssea”. Assim, o melhor caminho para a redução da mortalidade é uma abordagem planejada e monitorada para a perda de peso.
Nesse cenário, estudos sugerem uma combinação de restrição calórica com exercícios aeróbicos e de resistência para uma perda de peso saudável em idosos. Além disso, o profissional de saúde deve monitorar a massa e força muscular e a pressão arterial. Por fim, a recomendação também é suplementar com cálcio, vitamina D e proteínas.
De acordo com um estudo publicado no British Medical Journal em 2019, idosos aderem melhor e mantêm uma maior perda de peso com intervenções de estilo de vida. Além disso, idosos perdem mais peso que adultos jovens.
Enquanto isso, há também o caso da farmacoterapia para a prevenção de obesidade em idosos. No entanto, ainda há poucas evidências sobre o uso de medicamentos para controle da obesidade em idosos, principalmente sobre indivíduos acima dos 75 anos. Por isso, deve haver um cuidado maior na prescrição de medicamentos para obesidade no grupo dos idosos.
O mesmo pode ser dito para cirurgia bariátrica e metabólica. Nesse caso, idosos apresentam taxas mais elevadas de complicações perioperatórias, bem como menor eficácia na redução do peso e nos resultados cardiometabólicos.
Os quadros de obesidade provocam uma série de consequências em idosos, como hipertensão arterial, diabetes, doenças hepáticas, pulmonares e vasculares e neoplasias, por exemplo. Com isso, um dos desfechos é aquilo que se chama de “idoso incapaz”. Ana Cristina Canedo explica:
“Quando falamos em saúde e envelhecimento, não falamos só sobre a presença ou ausência de doenças, falamos muito em funcionalidade. Para ser saudável, o idoso precisa ser o mais independente possível, com capacidade de executar suas atividades do dia a dia”
Uma preocupação extra no caso de idosos se dá quando há obesidade sarcopênica. Isto é, quando o ganho de peso corporal está acompanhado da perda de massa muscular, agravando a fragilidade e incapacidade do idoso. Nesse caso, um estudo do Annals of the New York Academy of Sciences apontou que quando a obesidade se soma à sarcopenia na terceira idade, o risco de desenvolver de três ou mais incapacidades aumenta de 8 a 11 vezes.
Por isso, a recomendação é que profissionais de saúde estejam aptos a identificar casos de obesidade sarcopênica no dia a dia das consultas com idosos.
Estudos que cruzam dados do IMC (Índice de Massa Corporal) e de mortalidade de idosos respaldam o conceito de “paradoxo da obesidade”. Nesse caso, Ana Cristina Canedo explica que “o sobrepeso e a obesidade leve podem estar associados a uma menor mortalidade comparados ao baixo peso. Isso é totalmente diferente do que acontece em faixas etárias mais jovens. É o paradoxo da obesidade”.
Assim, há a hipótese de que determinados IMCs elevados estabelecem uma faixa protetora contra a mortalidade em idosos. Esse cenário pode ser explicado pelo maior estoque energético na forma de gordura e protéico na forma de massa muscular. Além disso, em períodos de desnutrição, idosos com obesidade podem apresentar maior preservação da massa muscular.
Isso não significa que quadros de obesidade são preferíveis em relação a níveis eutróficos. “Se o indivíduo teve um peso eutrófico constante ao longo da vida, ele com certeza vai ter menos comorbidades e vai envelhecer melhor. Se ele teve sobrepeso constante, provavelmente vai ter mais incapacidades”, explica Ana Cristina Canedo.
Tags
Em alta
Últimas
Brasil está acima da média mundial na falta de atividade física
Educação permanente ajuda no engajamento no cuidado da obesidade; saiba como implementar
Na Câmara, Cordial ressalta necessidade de melhor estrutura para pessoas com obesidade no sistema de saúde
Pressão alta em crianças e adolescentes exige cuidado redobrado
Evento explora potenciais e riscos de ambientes alimentares