Painel Brasileiro da Obesidade
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Especialista destaca principais benefícios de introduzir exercício físico na rotina de pacientes com câncer e alerta para os cuidados
André Derviche Carvalho
2 de dez de 2024 (atualizado 2 de dez de 2024 às 15h24)
A prática de exercício físico durante o tratamento contra o câncer apresenta uma série de benefícios ao paciente não só durante como também depois do tratamento. Nesse sentido, especialistas destacam o fortalecimento do músculo esquelético e do sistema imunológico.
Pacientes oncológicos que já eram ativos fisicamente antes do diagnóstico mostram resultados melhores. Ainda assim, a introdução personalizada de uma rotina de exercícios físicos no tratamento contra o câncer em pacientes antes sedentários mostra-se eficiente.
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Por exemplo, o exercício físico em pacientes com câncer evita a perda de massa magra. Esse quadro é conhecido como sarcopenia e é responsável por favorecer o desenvolvimento do tumor.
Na prescrição de exercícios físicos para pacientes com câncer, o profissional de educação física deve se atentar para eventual indisposição do indivíduo e sugerir uma rotina personalizada.
Em participação em live do PBO (Painel Brasileiro da Obesidade), uma iniciativa do Instituto Cordial, Fabricio Voltarelli, professor da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) e pesquisador no Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCan/MT), falou sobre o exercício físico como tratamento não farmacológico contra o câncer. Confira os destaques da conversa:
Não tenho dúvidas em dizer que o exercício físico em qualquer fase [do tratamento contra o câncer] vai ser importante. Um aluno defendeu o doutorado recentemente mostrando que mais de 200 pacientes, independentemente do câncer, se ele vai mal em alguns testes físicos específicos, se ele está acima do peso, o pós-cirúrgico dele é pior, o tempo de leito dele é maior e ele responde pior aos tratamentos que virão após a cirurgia.
Levando em consideração a condição clínica do paciente e a liberação do médico, os benefícios são enormes, [por exemplo], na parte nutricional, com a preservação da massa magra. A inclusão do exercício o quanto antes, respeitadas as características [do paciente], será de grande valia.
Lógico que é mais complicado quando o paciente não fez exercício físico anteriormente. Aqueles que já eram fisicamente ativos teoricamente fica mais fácil. O exercício seria mais um agregador a outros tipos de tratamento que a gente conhece.
Quando vamos personalizar para esses pacientes, temos que levar em consideração a vida pregressa, se já fez exercício, musculação, caminhada, corrida… e se não fez, expor aquela pessoa a testes físicos e mensurar para saber como estão suas capacidades e habilidades.
Assim como na medicina há esse diagnóstico inicial antes de um tratamento, nós, profissionais de educação física, temos isso em mãos. Depois da avaliação, é preciso avaliar as preferências [do paciente em relação aos tipos de exercício]. Tudo isso garante aderência ao programa. Se não tiver isso minimamente, você começa a ter os mesmos problemas que se têm com a população em geral, que é a não aderência e a falta de resultados.
Desde o início, se você tiver um diagnóstico, você pode controlar as cargas e preferências de acordo com isso. Isso vai fazer diferença. Basicamente é respeitar o limite de cada um, saber como eles estão inicialmente e a frequência, aderência e acompanhamento.
Não temos isso [tipos de exercício] determinado para cada tipo de câncer. Na minha opinião, esse é um gargalo. Por exemplo, não tem um teste físico individualizado para pacientes oncológicos, a gente acaba utilizando aquele para idoso, sendo que o paciente às vezes tem 40 anos. Nesse caso, corremos o risco de subestimar ou superestimar.
Os principais benefícios são para o músculo esquelético. Se o paciente oncológico quiser responder bem aos principais tratamentos, os convencionais, isso está muito ligado à preservação do músculo. A partir do momento que você tem perda exacerbada de massa magra, os efeitos colaterais do tratamento acabam sendo prejudicados.
O outro é para o sistema imunológico. Em algum momento você precisa de células – seja linfocitárias – para dar a ordem de destruição da célula após a replicação. No câncer, normalmente não é isso que acontece e silenciosamente essas células crescem.
Isso tem relação com a qualidade do músculo, se a pessoa é fisicamente ativa ou não e se, após o diagnóstico, ela continuará sendo sedentária ou se converterá em uma pessoa fisicamente ativa. Vemos a redução do tumor em pessoas que estão no tratamento do câncer e que estão fazendo exercício físico.
Esse é o grande desafio, porque mesmo em pacientes com bom condicionamento apresentam isso [fraqueza e indisposição durante o tratamento]. O manejo disso é a percepção subjetiva de esforço. Se a pessoa depois de uma quimioterapia ou radioterapia não estiver se sentindo bem, é melhor não fazer. Isso vai muito do tato que você tem com o grupo. É conhecer individualmente o paciente.
Fraqueza e indisposição é muito normal. Boa parte desses tratamentos levam a náusea e fraqueza, mas não podemos deixar isso ser um denominador comum. Às vezes com um mês parado já há uma queda drástica para os pacientes em tratamento.
É respeitar a decisão do paciente indisposto e relatar ao médico. Por isso é importante ter um canal direto com o médico, mas temos que ter cuidado para não perder os ganhos significativos que já tivemos.
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